Reportagem realizada no Caderno Zona Sul do O Globo em 09/05/2020 sobre as mães que ficarão sem os filhos no Dia das Mães.
A psicóloga Grace Falcão dá dicas de como passar por essa fase.
Mães tentam driblar a saudade com a certeza de que o sacrifício da quarentena é necessário
O isolamento como forma de proteção é uma demonstração de carinho e cuidado
RIO — Isolamento social não combina com Dia das Mães. Devido à quarentena, amanhã os abraços serão substituídos por videochamadas e telefonemas, o almoço será menos farto e grande parte das reuniões em família terá que esperar. Mas é também no isolamento que o ditado “Mãe é mãe” se explica, pelas atitudes: elas sabem que o sacrifício é necessário e representa uma demonstração de amor e cuidado.
Leila Falcone, de 71 anos, tem duas filhas e três netos. Ela mora sozinha no Humaitá, mas estava sempre com eles nos fins de semana, pois tinham o costume de almoçar juntos e sair para passear. Desde o dia 17 de março, Leila está em isolamento social e não encontrou mais ninguém. Sobraram as fotos para matar a saudade.
— Está sendo muito difícil me privar do convívio, especialmente da minha neta mais nova, dos abraços e do carinho. Costumávamos conversar muito, ela me conta tudo e eu sinto muita falta disso. Nós nos falamos duas vezes por dia no telefone e, assim, consigo perceber se ela está bem — conta.
Mesmo acostumada a estar sozinha, emocionada, Leila diz que a neta Carolina, de 7 anos, faz a situação ficar mais leve para ela. Por isso, acredita que este domingo possa ser especial.
— Quando a gente ama uma pessoa, ela nunca está longe, eu me sinto sempre acompanhada. Vou falar com a minha família, vou vê-los pelo vídeo e quero me sentir bem ao saber que estão todos bem e que eu cumpri minha missão — explica.
Para ela, de toda esta experiência, o legado maior será o da compreensão e da solidariedade.
Assim como Leila, Maria José de Campos, de 66 anos, passará o Dia das Mães de forma diferente. Acostumada a se reunir com as três filhas, a tia, a irmã e sobrinhos para um tradicional almoço, desta vez ela estará apenas com a filha mais nova, que mora com ela. A mais velha, que vive em Viena há um ano, já está acostumada às videochamadas. Por isso, a maior ausência deste ano será a da filha Viviane, que mora no Flamengo e não se encontra com os pais desde o início de março — elas tinham o hábito de se reunirem nos fins de semana para almoçar, assistir a filmes e conversar. Diferentemente de Leila, Maria José acha que o Dia das Mães será de poucas alegrias.
—Este será o segundo Dia das Mães sem minha filha mais velha. E se ano passado eu fiquei triste, eu era feliz e não sabia, porque agora eu vou ficar também sem a Viviane, sem a minha irmã, sem meus sobrinhos. Vai ser muito difícil para mim, mas vou procurar não me lamentar, pois ano que vem vai ser muito melhor — espera.
Para Grace Falcão, psicóloga especialista em orientação familiar, o caminho para fugir do sentimento de solidão é a positividade. Ela também passará o domngo longe de seus dois filhos.
— Nosso cérebro sempre tende a pensar o pior das situações. E esse pensamento negativo vira uma onda de sensações ruins no nosso corpo e na nossa mente, que leva a um sentimento de desesperança e ansiedade diante o futuro. Sim, estamos sozinhas e longe dos nossos filhos, mas tem felicidade maior para uma mãe do que saber que seus filhos estão seguros e com saúde? Temos que pensar que esta não é uma situação eterna e que vai passar— explica.
Outra dica de Grace é ocupar a mente e o corpo com atividades que façam bem, que façam a pessoa se sentir produtiva e feliz.
— Gosta de costurar, ler ou cozinhar? Então faça mais isso nesta quarentena! Crie um grupo de amigos para encurtar a distância física— aconselha.
Fonte: Mariana Teixeira
Link da matéria: O Globo