Como conciliar home office e homeschooling na quarentena?
Já são mais de 30 dias sem aulas nas redes públicas e particulares de todo o Brasil, com crianças de 5 a 18 anos substituindo as aulas presenciais pelo homeschooling (educação em casa). Em paralelo a isso, a maioria dos escritórios de serviços não essenciais também tiveram que fechar as portas e adotar o sistema de home office.
Essas medidas de combate ao novo coronavírus criaram um novo cenário dentro dos lares brasileiros, onde os pais precisam se dividir entre a paternidade, o emprego, os serviços domésticos e o acompanhamento escolar dos filhos. Mas afinal, como conciliar home office, homeschooling e todas as tarefas do dia a dia de forma organizada e mantendo um bom relacionamento familiar?
Esse é o dilema da carioca Paula Amorim (40), produtora de eventos e mãe da Maria Eduarda (8) e da Pietra (5). “Apesar dos meus eventos terem sido adiados por conta da pandemia, preciso continuar produzindo conteúdo para abastecer as minhas redes sociais, então estou fazendo uma tripla jornada atualmente: trabalho, casa e filhos. Confesso que, com o isolamento social, nossos horários de dormir, acordar e comer também estão todos bagunçados, então não estamos seguindo nenhuma rotina certinha. Eu tento me organizar para as aulas das crianças apenas. No caso da Maria Eduarda, ela não anda muito animada com as videoaulas, então eu preciso acompanhar de perto os seus estudos para que ela se concentre. Já a Pietra, como está sentindo muita falta dos amiguinhos, está tendo algumas crises de choro e me pergunta com frequência quando isso tudo vai acabar. Meu marido está me ajudando mais em casa, para darmos conta de todas as funções que esse período em casa nos gerou, mas realmente é um momento muito estressante e cansativo para nós (pais)”, revela a mãe.
Para a psicóloga Grace Falcão, especializada em parentalidade e psicoterapeuta da família Amorim, o segredo para um relacionamento saudável entre pais e filhos está no diálogo com respeito mútuo. “Minha primeira orientação aos pais seria para eles explicarem, de forma verdadeira (porém com serenidade), o motivo do prolongamento da quarentena e ficarem atentos aos sinais de stress da criança. A maioria delas, principalmente as pequenas, não sabe verbalizar os seus sentimentos. Muitas vezes, o comportamento muda em função do que elas estão sofrendo com o isolamento social, e podem vir através de crises de choro, tristeza ou aquela série de “nãos” (“não quero estudar”, “não quero tomar banho” e “não quero comer”)”, explica.
“Em um momento de grande stress como esse, investigar o pensamento da criança, dar oportunidade para ela falar sobre suas emoções, e acolher seus sentimentos é a chave para manter um relacionamento saudável, não só com a criança, mas com toda a família. Todo comportamento emitido tem uma motivação por trás, e cabe aos pais cuidar do controle das próprias emoções e ajudar ao filho a lidar com as emoções dele. Essa postura dos pais fará com que eles possam compreender melhor seus filhos, e evitar muitos conflitos”, aconselha a especialista.
Para conciliar o home office e o homeschooling, e ainda manter um relacionamento familiar positivo, Grace Falcão lista quatro dicas para por em prática nessa quarentena:
1 – Tenha uma rotina: “A maioria das crianças (e dos adultos) funciona melhor com uma rotina estabelecida. Faça um cartaz bem lúdico (impresso ou de cartolina) para definir o horário das tarefas de cada um. Se a criança for pequena, evite horários e escreva por turnos (manhã, tarde e noite). Eu costumo sugerir que os pais sigam a rotina que a criança já estava acostumada, para não sentir tanto com a mudança (se ela estudava de manhã, programe o homeschooling para a manhã; se os pais trabalhavam no período da tarde, também tente manter seus horários habituais). Contudo, não crie um conflito familiar se algo sair do planejado. Entenda que estamos vivendo dias de grande tensão e que qualquer um (pais ou filhos) podem ter dias ruins”.
2 – Não exija demais (nem do seu filho e nem de você): “O isolamento social é um período muito estressante para toda a família. Por isso, não exija notas altas e nem 100% do desempenho do seu filho durante as aulas online. O mesmo serve para os pais, não cobre uma produtividade fora do comum no seu home office. Cada um reage de uma forma e tem o seu tempo de adaptação”.
3 – Tenha um “cantinho da calma”: “Quando um adulto não se sente muito produtivo no trabalho, ele costuma dar um break para reorganizar as ideais, então por que a criança não tem direito ao mesmo? Por que ela tem que estudar, brincar, se alimentar ou dormir na hora que você diz? Forçar uma situação só vai gerar mais conflitos em casa. Estabeleça um cantinho da calma para a criança relaxar (sozinha ou não, o que ela preferir) quando estiver estressada e não quiser cumprir alguma tarefa. Aquele será espaço e o momento dela para dar um break e deixar o stress passar (não é castigo). Passou o momento? Volte a conversar e tente reestabelecer a rotina da família, ou combinar outra hora para aquela tarefa”.
“O mesmo serve para os adultos. Não está produtivo? Está sem concentração? Vá para o seu cômodo favorito e faça algo que te dê prazer. Isso serve para os cônjuges também: se revezem com as crianças, para cada um ter o seu momento de lazer sozinho, e depois, também como casal”.
4 – Delimite os espaços: “Tente delimitar as tarefas por cômodos. Por exemplo, o home office dos pais será sempre no quarto deles. Já o homeschooling das crianças vai ser no quarto delas, e a hora do lazer da família vai ser sempre na sala de estar. Isso organiza melhor a rotina da casa e ajuda a mente a “desligar” do trabalho na “hora do lazer” e vice-versa”.
Para ajudar a melhorar a convivência familiar durante a quarentena, Grace Falcão adaptou as suas terapias para uma plataforma online, onde consegue oferecer atendimento por vídeo para adultos, jovens e até crianças. As consultas podem ser agendadas pelo site (www.gracefalcao.com). A psicóloga também é a fundadora da iniciativa Família Consciente (www.familiaconsciente.com.br) – projeto que oferece palestras e cursos sobre educação emocional para famílias. O movimento segue com o seu calendário de palestras semanais sobre convívio familiar, com foco na quarentena, através das redes sociais (@familia_consciente e @gracefalcao).
Link da matéria: Aventuras Maternas